Devo admitir que me agradou o artigo de Miguel Sousa Tavares sobre a já quase esquecida polémica do novo aeroporto da Ota. A verdade é que, com as discussões, aqui e ali, divididas entre o aborto e a IVG ou entre a liberalização e a despenalização, ninguém chega a acordo e prevê-se que o bate-boca só termine no próximo Domingo.
Na perspectiva do Governo, não poderia o referendo ter vindo em melhor altura, num momento em que se começavam a intensificar as greves e as manifestações. Desta forma, por algumas semanas, só se tem falado em aborto, feto, mulher, vida e escolha. Há que, por isso, dizer que o referendo resultou. Num país onde tudo estava mal, afinal - pelo menos por enquanto - o que está mesmo mal é o Código Penal.
Mas então e as portagens nas SCUT, a subida do imposto sobre os combustíveis, as taxas moderadoras na saúde, a decisão de taxar também os cidadãos com deficiências e as pensões dos idosos...? Então e a Ota? Já não valerá a pena discutir estes temas? Será que todos se esqueceram dos problemas de Portugal? Já quase até nem se ouve falar na Câmara de Lisboa...
O país fez, nestas semanas, uma espécie de coffee-break, que dá para descansar das questões essenciais, mas que lança a exaltação e o nervosismo entre os intervenientes.
Portugal vive 24 sobre 24 horas a pensar no aborto, para no dia 11 votar SIM ou NÃO, num supremo exercício de um direito político que é também um dever cívico, adormecer depois do anúncio dos resultados e da festa dos vencedores e, na seguda-feira, aperceber-se que afinal tudo continua triste e soturno.
Sinceramente, esta campanha recorda-me os dias do Euro 2004 e do Mundial 2006, em que os portugueses viviam emocionados, a pensar na final. No desfecho, voltaram todos a viver cabisbaixos e mal-dispostos.
Em suma, preparem-se, pois no dia 12 volta tudo ao mesmo.
terça-feira, fevereiro 06, 2007
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