segunda-feira, outubro 16, 2006
a apologia de Sócrates
Foto: www.pmcomm.com
O semanário Sol, de sábado passado, publicou a notícia de que um professor entregou aos seus alunos um discurso do primeiro-ministro José Sócrates, proferido aquando das conferências Novas Fronteiras, para que redigissem um resumo daquele texto.
Contudo, é verdadeiramente curioso que as críticas à atitude deste senhor professor tenham tão somente recaído sobre a questão de consistir num texto longo e complicado, sem que alguém tecesse sequer um comentário sobre o cariz da ideia do docente - fazer os alunos resumir um discurso do Senhor Primeiro-Ministro.
Pouco ou nada se disse acerca do tema do discurso, mas a circunstância reporta-nos claramente aos tempos do Estado Novo, em que se dava aos alunos os discursos do Senhor Presidente do Conselho, além de outros textos que elogiavam a sua obra enquanto goverante.
O mais assustador de tudo isto é que o tema foi relegado para uma página escondida do jornal e mais ninguém falou do assunto.
Nas páginas do Público, elogiou ontem (domingo) António Barreto a inteligência de Sócrates, por não ir ao fundo das questões e se limitar a tocar nos assuntos de forma superficial, para não criar inimigos. No entanto, parece que a própria comunicação social também pouco tem aprofundado os problemas que se passam em Portugal, preferindo dar início aos telejornais com discursos apoteóticos, em fundo rosa.
Disse-se que acabou a crise, comemorou-se quando, num mês, o país subiu um lugar no ranking dos mais competitivos, mas quando no, mês seguinte, desceu três lugares, tentou-se descredibilizar os dados estatísticos...
Ontem, ao referir-se ao tipo de formato que escolheu para o seu novo programa, Herman José chocou (ou talvez não) o país com uma frase que fez capa no Diário de Notícias - "é o que se pode fazer numa semiditadura".
Em 2005 falava-se em censura, mas talvez os reconhecidos analistas de domigo à noite estejam agora mais contentes com o "Estado" das coisas...
Acabou! A III República contorce-se e retorce-se.
Quando eu morrer batam em latas,
Rompam aos saltos e aos pinotes,
Façam estalar no ar chicotes,
Chamem palhaços e acrobatas!
Que o meu caixão vá sobre um burro
Ajaezado à andaluza...
A um morto nada se recusa,
Eu quero por força ir de burro.
O Fim, Mário de Sá Carneiro
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