terça-feira, outubro 17, 2006

o senhor "Leviathan"


Foto: www.agenciafinanceira.iol.pt

O programa da RTP Prós e Contras, de ontem à noite (segunda-feira), foi mais uma lavagem de roupa suja entre o Estado central e as autarquias locais.

Tanto o presidente da ANMP, Fernando Ruas, como o Ministro da Administração Interna, António Costa, começaram bem o debate, apontando os seus pontos de vista e defendendo, respectivamente, o "não" e o "sim" à nova Lei das Finanças Locais.

No entanto, a discussão azedou quando os ânimos se exaltaram e António Costa recordou a famosa frase "corram-nos à pedrada", proferida há uns meses por Fernando Ruas. O "presidente dos autarcas" respondeu com a acusação de que o Governo envia para os jornais notícias já redigidas, para posterior publicação.

Como se viu, o nível foi descendo ao longo do programa, com os habituais comentários sobre a descredibilização dos autarcas e a diferença de legitimidade política entre o governo e o poder local. A presença de Saldanha Sanches mais contribuiu para a "lavagem de roupa suja" entre Estado central e autarquias.

O "senhor Estado", que tem conduzido uma guerra sem tréguas contra tudo o que não é Administração central, insistiu na tese de que os autarcas são corruptos, não cobram impostos e querem viver à custa do Governo, tendo mesmo chegado a admitir que o mal de Portugal, nos últimos 30 anos, foi o poder local.

Muito bem esteve José Ribau Esteves, presidente da Câmara Municipal de Ílhavo. Sempre cordato e cativante durante todo o programa, demonstrou conhecer bem a matéria e não entrou no capítulo das acusações e do ataque fácil. Rebateu a tese da corrupção autárquica de Saldanha Sanches, clarificando que para o Professor e fiscalista existe uma "Câmara Municipal de Portugal" onde todos são corruptos.

Em rigor, se os únicos incompetentes e corruptos fossem autarcas, Portugal não seria certamente o envergonhado país que consta sempre dos últimos lugares das listas europeias ou da OCDE, nem teria défice. As autarquias locais não são o problema nacional. Aliás, se o governo de Sócrates interioriza a tese de defesa do monstro "Leviathan", como poderá vir, em seguida, propor uma regionalização?

É esta mais uma prova de que, ultimamente, se tem governado ao sabor das notícias dos pasquins, que denunciam uns e outros autarcas, abordando os problemas do país pela rama...

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