segunda-feira, outubro 30, 2006

o "lulismo" continua


Foto: Ap Photo / Victor R. Caivano

A Lula sucede... Lula. O banho de multidão que recebeu o re-presidente brasileiro (assim diria a Floribella) em São Bernardo do Campo, na segunda volta das Presidenciais em terras de Vera Cruz, esclareceu as poucas dúvidas que poderiam ainda existir quanto à reconfirmação de Luiz Inácio Lula da Silva no cargo que já ocupava.

Apesar de uma campanha recheada de precalços, nem os escândalos que têm vindo a lume desde há um ano mancharam a vitória de ontem do torneiro mecânico mais famoso do mundo, nascido em Caetés, no Estado de Pernambuco.

O "mensalão" e as alegadas tentativas para denegrir a imagem de políticos da oposição foram vistos pelos mais de 120 milhões de votantes como mais um fait divers de um mandato que deixou muitos eleitores de esquerda desiludidos, mas que preferiram a recondução de Lula à estreia de Geraldo Alckmin (candidato do PSDB). O opositor de Lula errou, pois, ao não fazer uma campanha de segunda volta tão agressiva como a da primeira, que incidisse, principalmente, na resolução do desemprego, que é o problema que tem sempre mais preocupado os brasileiros. Do outro lado, o candidato do PT preferiu criticar os governos anteriores de Fernando Henrique Cardoso a realçar o seu próprio trabalho, o que pareceu favorecê-lo, visto Alckmin não ter sabido corresponder à experiência combativa de Lula da Silva.

Transpareceu assim, para a maioria dos brasileiros, a ideia de que o governo de Fernando Henrique Cardoso é que foi péssimo e que o do PT seria o mal menor. Seja isso ou não verdade, até se viu comentadores portugueses, nos meios de comunicação, a defender essa ideia. Como se FHC fosse ainda presidente e estivesse agora para sair do governo... Só que, a provar-se as acusações de corrupção que pairam sobre o PT, resta saber se Lula vai continuar a imputar as culpas à política de Fernando Henrique Cardozo.

No entanto, contra ventos e marés judiciais, com esta reeleição, o so called "lulismo" ganha relevância e começa a ser objecto de análise e discussão entre os interessados pela política. A realidade é que, num país em que é normal eleger presidentes provenientes da classe alta e com cursos superiores, Lula parece emergir, não tanto pelos seus ideais ou pela sua forma de fazer política - pois já demonstrou ser mais moderado do que aparentava ser até há quatro anos atrás -, mas fundamentalmente por ser um homem do povo. Ele é o verdadeiro estereótipo do brasileiro bonacheirão e bem disposto, que anda no meio do povo sem a gravata que, habitualmente, marca a distância entre o presidente e os eleitores.

Esta imagem que Lula não precisou de criar, por já ser uma característica intrínseca, vale-lhe milhões de votos, mesmo que o seu partido não cumpra as promessas eleitorais ou cometa erros graves, como os tão falados casos de corrupção. É que o recém reeleito presidente do Brasil tem algo que Geraldo Alckmin, por mais sério e competente que seja, não consegue ter, que é o carisma de um homem do povo. Não é, aliás, em vão que escolheu como slogan "Lula de novo, com a força do Povo". Nada mais piroso - diria um qualquer publicitário português, por mais experimentado em marketing político. Pois é, mas a verdade é que o piroso, às vezes, ganha eleições.

sexta-feira, outubro 20, 2006

buraco do ozono já é "record"


Foto: www.nasa.gov

O buraco do ozono chegou novamente ao tamanho máximo, no Pólo Sul. Nesta imagem de 24 de Setembro, captada pelo satélite Aura da Nasa, a área da camada empobrecida de ozono na atmosfera (em roxo e azul) atingiu os 27, 45 milhões de quilómetros quadrados, igualando o pouco invejável record de 9 de Setembro de 2000.

porque

Porque os outros se mascaram mas tu não
Porque os outros usam a virtude
Para comprar o que não tem perdão
Porque os outros têm medo mas tu não.

Porque os outros são os túmulos caiados
Onde germina calada a podridão.
Porque os outros se calam mas tu não.

Porque os outros se compram e se vendem
E os seus gestos dão sempre dividendo.
Porque os outros são hábeis mas tu não.

Porque os outros vão à sombra dos abrigos
E tu vais de mãos dadas com os perigos.
Porque os outros calculam mas tu não.

Sophia de Mello Breyner Andresen

terça-feira, outubro 17, 2006

todos à praia


Foto: Mark Baker, www.ap.org

A Bondi Beach (ou "bondai", como pronunciam os locais), em Sydney, no dia de Outubro mais quente de sempre (35 graus). O calor e os fortes ventos propagaram 300 incêndios no sul e no sudeste da Austrália e Tasmânia, onde esta época do ano equivale ao mês de Abril no hemisfério boreal. Águas mil...?

A não perder a revista Blue Travel deste mês, que, em anexo a uma aprofundada reportagem sobre cidade de Sydney, publica imagens muito atractivas da mais famosa praia da Austrália.

o senhor "Leviathan"


Foto: www.agenciafinanceira.iol.pt

O programa da RTP Prós e Contras, de ontem à noite (segunda-feira), foi mais uma lavagem de roupa suja entre o Estado central e as autarquias locais.

Tanto o presidente da ANMP, Fernando Ruas, como o Ministro da Administração Interna, António Costa, começaram bem o debate, apontando os seus pontos de vista e defendendo, respectivamente, o "não" e o "sim" à nova Lei das Finanças Locais.

No entanto, a discussão azedou quando os ânimos se exaltaram e António Costa recordou a famosa frase "corram-nos à pedrada", proferida há uns meses por Fernando Ruas. O "presidente dos autarcas" respondeu com a acusação de que o Governo envia para os jornais notícias já redigidas, para posterior publicação.

Como se viu, o nível foi descendo ao longo do programa, com os habituais comentários sobre a descredibilização dos autarcas e a diferença de legitimidade política entre o governo e o poder local. A presença de Saldanha Sanches mais contribuiu para a "lavagem de roupa suja" entre Estado central e autarquias.

O "senhor Estado", que tem conduzido uma guerra sem tréguas contra tudo o que não é Administração central, insistiu na tese de que os autarcas são corruptos, não cobram impostos e querem viver à custa do Governo, tendo mesmo chegado a admitir que o mal de Portugal, nos últimos 30 anos, foi o poder local.

Muito bem esteve José Ribau Esteves, presidente da Câmara Municipal de Ílhavo. Sempre cordato e cativante durante todo o programa, demonstrou conhecer bem a matéria e não entrou no capítulo das acusações e do ataque fácil. Rebateu a tese da corrupção autárquica de Saldanha Sanches, clarificando que para o Professor e fiscalista existe uma "Câmara Municipal de Portugal" onde todos são corruptos.

Em rigor, se os únicos incompetentes e corruptos fossem autarcas, Portugal não seria certamente o envergonhado país que consta sempre dos últimos lugares das listas europeias ou da OCDE, nem teria défice. As autarquias locais não são o problema nacional. Aliás, se o governo de Sócrates interioriza a tese de defesa do monstro "Leviathan", como poderá vir, em seguida, propor uma regionalização?

É esta mais uma prova de que, ultimamente, se tem governado ao sabor das notícias dos pasquins, que denunciam uns e outros autarcas, abordando os problemas do país pela rama...

segunda-feira, outubro 16, 2006

a apologia de Sócrates


Foto: www.pmcomm.com

O semanário Sol, de sábado passado, publicou a notícia de que um professor entregou aos seus alunos um discurso do primeiro-ministro José Sócrates, proferido aquando das conferências Novas Fronteiras, para que redigissem um resumo daquele texto.

Contudo, é verdadeiramente curioso que as críticas à atitude deste senhor professor tenham tão somente recaído sobre a questão de consistir num texto longo e complicado, sem que alguém tecesse sequer um comentário sobre o cariz da ideia do docente - fazer os alunos resumir um discurso do Senhor Primeiro-Ministro.

Pouco ou nada se disse acerca do tema do discurso, mas a circunstância reporta-nos claramente aos tempos do Estado Novo, em que se dava aos alunos os discursos do Senhor Presidente do Conselho, além de outros textos que elogiavam a sua obra enquanto goverante.

O mais assustador de tudo isto é que o tema foi relegado para uma página escondida do jornal e mais ninguém falou do assunto.

Nas páginas do Público, elogiou ontem (domingo) António Barreto a inteligência de Sócrates, por não ir ao fundo das questões e se limitar a tocar nos assuntos de forma superficial, para não criar inimigos. No entanto, parece que a própria comunicação social também pouco tem aprofundado os problemas que se passam em Portugal, preferindo dar início aos telejornais com discursos apoteóticos, em fundo rosa.

Disse-se que acabou a crise, comemorou-se quando, num mês, o país subiu um lugar no ranking dos mais competitivos, mas quando no, mês seguinte, desceu três lugares, tentou-se descredibilizar os dados estatísticos...

Ontem, ao referir-se ao tipo de formato que escolheu para o seu novo programa, Herman José chocou (ou talvez não) o país com uma frase que fez capa no Diário de Notícias - "é o que se pode fazer numa semiditadura".

Em 2005 falava-se em censura, mas talvez os reconhecidos analistas de domigo à noite estejam agora mais contentes com o "Estado" das coisas...

Acabou! A III República contorce-se e retorce-se.


Quando eu morrer batam em latas,
Rompam aos saltos e aos pinotes,
Façam estalar no ar chicotes,
Chamem palhaços e acrobatas!

Que o meu caixão vá sobre um burro
Ajaezado à andaluza...
A um morto nada se recusa,
Eu quero por força ir de burro.

O Fim, Mário de Sá Carneiro

segunda-feira, outubro 09, 2006

histórias de Havana


Foto: www.cinempire.com

No dia em que os cubanos comemoram o 39.º aniversário da morte de Che Guevara, aqui fica a proposta para não perder a última longa-metragem de Andy Garcia - The Lost City (ou Havana - A cidade perdida).

Nascido na cidade Havana em 1956, Andy Garcia estreou um argumento que procura mostrar, sem receios, a verdade dos dois regimes - batistista e fidelista.

O actor, que também realizou o filme, assume o papel de Fico Fellove, dono de um cabaré e filho de um famoso professor universitário, que perde os seus irmãos, de duas maneiras diferentes - um que, ao lutar pela democracia, é executado pelo regime de Fulgencio Batista e outro, comunista, que abandona a mulher, o filho e toda a família pela causa fidelista.

Um interessante retrato da vida cubana em meados do século XX, temperado com um pouco de romance, à boa maneira de Hollywood, e que nos mostra o azar do povo cubano que, ao longo das décadas, tem sofrido com as loucuras dos seus líderes.